A ideia desse post nasceu da pergunta que uma grande amiga fez para mim sobre o post do Project Nu, publicado na ultima sexta-feira: “por que a mulher gorda para ser aceita também tem que exibir o corpo?”. Argumentei que era necessário tornar visível o que até então estava escondido, que era uma maneira de questionar o padrão de beleza vigente e bláblá blá… Mas, ai ele me deu um Xeque-mate: “Mas, o objetivo é tornar o corpo gordo tão objeto quanto o magro? A gordinha quer que em vez da loira gostosona, ela apareça nua no comercial de cerveja? Afinal, por que as mulheres continuam usando o corpo para se manifestar? Isso não é cair exatamente naquilo que elas pretendem combater?”
Confesso que não tenho uma resposta segura sobre o assunto, mas faço aqui um exercício de compreensão com base em algumas leituras. Sem dúvida, a exposição dos corpos está ligada a uma espetacularização dos movimentos sociais. Mas, possivelmente, esse espetáculo está revestido de novos sentidos. Como bem lembrou meu best friend, Aramis, “não se trata de fazer da bunda da gorda a bunda da propaganda, mas de refletir e agir em relação a um tabu que emerge como norma”.
Nesse sentido, o corpo nu ganha uma dimensão politica sem igual. O que precisa ser contido, privado, escondido, torna-se uma midia, um meio pelo qual os grupos minoritários se expressam, tomando para si o controle de seus corpos. Ao longo da História, diversos grupos têm usado a nudez como forma de protesto. Os Doukhobors, grupo de refugiados da Rússia no Canadá, desde o século XIX, usavam o corpo nu para se manifestar. As feministas queimaram os sutiãs para falar da dominação masculina, em 1968. Atualmente, o FEMEN, grupo de feministas da Ucrânia, adotou a nudez como “arma de campanha”. Num pais aonde 80% das mulheres estavam desempregadas e a maior perspectiva delas era encontrar um marido ou ir para a prostituição, essas jovens tiverem que escolher entre serem manipuladas pela mídia ou manipulá-la. Afinal, por 1 ano e meio elas protestaram contra as péssimas condições de vida sem tirar a roupa e foram ignoradas. Elas só tiveram a repercussão mundial que tem hoje quando passaram a protestar de peito de fora. Hoje, a organização conta com representações em 27 países, incluindo o Brasil. Não é toa que Aleksandra Sacha, uma das lideranças do FEMEN, afirmou: “Meus seios são duas bombas!”
Independente do uso que a mídia faz desses protestos, a nudez atua como um recurso para chamar atenção para as causas levantadas. No Brasil, por exemplo, a Marcha das Vadias só ganhou expressividade em território nacional depois que as mulheres tiraram a camisa. Ao fornecerem as imagens para uma mídia obcecada pelo sexo, os corpos se convertem em panfletos para denunciar, informar e chamar atenção para a causa das mulheres. Eles incorporam o discurso e usam a mídia para que sejam lidos. Ou seja, os corpos são usados num ato de inversão. Dessa forma, não se trata de usar o corpo para vender a cerveja, mas sim de exibi-lo para vender idéias.
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